Você vai para um lugar onde está sozinho, abre sua pequena urna
e observa aquele tecido envelhecido se desfazendo. Pega como se fosse o mais
fino linho e aproxima-o do rosto. Sente seu toque, e de repente, é como se
estivesse ali no parque em que tudo aconteceu. Você percebe as cores desbotadas
ao seu redor, as crianças correndo ao longe emitindo sons ininteligíveis e vê
sua mãe sentada na grama. Ela está lá com alguém... Conversam algo agradável,
pois você pode ver sua expressão feliz, quase eufórica. Ao se aproximar para
tentar um contato, você não consegue tocá-la. Você não está lá e ela não o vê. De
repente, como se fosse puxado da cena, você volta. Quando recobra a
consciência, está deitado no chão, com o pedaço de pano entre os dedos. Então
percebe que era um sonho, mesmo sendo tudo tão real. Você pega seu trapo e o
devolve à urna. Vai para seu quarto e a deposita no fundo da gaveta. Você a
fecha. O passado embora agradável, às vezes é doloroso. Você sofre com a
lembrança acesa em sua mente e uma lágrima cai de seus olhos... Então tenta
esquecer, mas a presença dela ainda é muito forte naquela casa. Ainda é
possível ouvir sua risada, sua voz cantarolando músicas enquanto cozinha; ouvir
seus passos ao se mover pelos corredores, mas você também não está naquela
casa. É tudo tão estranho, tão frio, tão distante. Você ouve uma voz.
Abra os olhos e veja seu quarto. Não há cômoda, não há cozinha,
não há lembrança, não há nada. Apenas paredes brancas. Você está em uma sala
com uma cama apenas. E um senhor de jaleco branco observa sua face assustada
ante o terror que o momento proporciona.