domingo, 10 de junho de 2012

Tecido


Você vai para um lugar onde está sozinho, abre sua pequena urna e observa aquele tecido envelhecido se desfazendo. Pega como se fosse o mais fino linho e aproxima-o do rosto. Sente seu toque, e de repente, é como se estivesse ali no parque em que tudo aconteceu. Você percebe as cores desbotadas ao seu redor, as crianças correndo ao longe emitindo sons ininteligíveis e vê sua mãe sentada na grama. Ela está lá com alguém... Conversam algo agradável, pois você pode ver sua expressão feliz, quase eufórica. Ao se aproximar para tentar um contato, você não consegue tocá-la. Você não está lá e ela não o vê. De repente, como se fosse puxado da cena, você volta. Quando recobra a consciência, está deitado no chão, com o pedaço de pano entre os dedos. Então percebe que era um sonho, mesmo sendo tudo tão real. Você pega seu trapo e o devolve à urna. Vai para seu quarto e a deposita no fundo da gaveta. Você a fecha. O passado embora agradável, às vezes é doloroso. Você sofre com a lembrança acesa em sua mente e uma lágrima cai de seus olhos... Então tenta esquecer, mas a presença dela ainda é muito forte naquela casa. Ainda é possível ouvir sua risada, sua voz cantarolando músicas enquanto cozinha; ouvir seus passos ao se mover pelos corredores, mas você também não está naquela casa. É tudo tão estranho, tão frio, tão distante. Você ouve uma voz.

Abra os olhos e veja seu quarto. Não há cômoda, não há cozinha, não há lembrança, não há nada. Apenas paredes brancas. Você está em uma sala com uma cama apenas. E um senhor de jaleco branco observa sua face assustada ante o terror que o momento proporciona.

Amor


Você não se liberta de um amor antigo. Nunca. Sempre há o resquício da paixão passada correndo em suas veias e afetando a sua memória. Qualquer coisa pode fazê-lo viajar no tempo e relembrar o momento mágico que viveu (geralmente a pessoa que está contigo agora não gosta disso). Na maioria dos casos são músicas.  Outras vezes, imagens. E tem também os cheiros. Ah os cheiros... Nada é tão bom quanto cheirar algo junto com quem se ama, tudo muda... Pode ser o odor mais fétido, mas quando se está com o amor da sua vida, torna-se o mais puro aroma de rosas. O amor nos faz idiotas. E idiotas fazem idiotices – fato – que não enxergam. Tudo é para a pessoa amada; em todo lugar você a vê. Sua vida se torna iluminada, com mais cor, com mais vida, com mais tudo...
E quando acaba? O mundo desaba, você chora, grita, deprime-se, denegre-se, sabota-se... Vira um pedaço de carne ambulante com os sentimentos em frangalhos, até achar um outro alguém que o faça feliz novamente. Você jurou nunca mais amar? Isso é uma verdade absoluta até que encontre a pessoa perfeita de novo. E de novo. E de novo. Ame. Vale a pena. Pelo menos se você gostar de montanha-russa.

A Gorda


A gorda. Na frente da praça, desolada. Sozinha. Os carros passando, as pessoas passando. Todos sem face. Ninguém pode sentir a dor que ela sente agora. O frio corta sua pele branca quase a fazendo sangrar. A paisagem cinzenta e a chuva que se aproxima – típicos daquela época do ano completam o cenário triste. Ela pensa no acontecido, em cada momento que antecedeu àquele momento trágico. Nos seus fones toca uma música triste, Röyksopp talvez. E ela para. Agora, não há mais nada para a se fazer. Tudo acabou. Ela vê o prédio do outro lado da rua com a porta aberta. Caminha até a entrada e vê as escadas de mármore desgastadas pela ação do tempo. Sobe cada degrau como se fosse a última vez – e talvez seja -, dirige-se a um dos elevadores que estão de portas abertas no térreo. Ela entra e pressiona o botão que a leva ao último andar. Durante a subida, ela relembra mais uma vez cada uma das cenas da manhã anterior. Tudo aconteceu tão de repente, numa ordem perfeita...
Ao chegar ao topo, ela admira a vista... Realmente, a cidade é linda, com sua paisagem cinzenta e suas pessoas sem face. E então ela sobe na mureta. E pula. E voa. E se liberta.

Bilhete

E eu que sempre pensei em ti? Sim, desde que te conheci tens sido a inspiração da minha vida, a luz dos meus dias e a força que meu coração precisa pra viver. Tanto imaginei e fantasiei que me esqueci de te contar como me sentia. Te coloquei em um pedestal, onde guardava minha maior preciosidade; adorava-te como um louco apaixonado. Perto de você, ficava sem palavras, pois se abrisse minha boca seria pra dizer o quanto te amava e te venerava. Nesse momento, me falta o céu, me falta o chão, a alegria e o ar. Falta-me tudo, pois descobri que você não me pertence. Estou morrendo.

Observação


Não repare se eu fixar meu olhar em você. Eu gosto de te observar, tentar entender cada gesto, cada movimento, cada sobrancelha levantada ou mão no cabelo passada. Gosto de ver seus sorrisos, até os mais tímidos – esses são os meus preferidos – e adoro quando sou a causa deles. Eu gosto de imaginar o que passa pela sua mente enquanto você conversa comigo. Eu queria ser onipresente e estar com você o tempo todo; você se tornou meu objetivo a ser alcançado. Eu queria poder te tocar e dizer tudo o que sinto, mas não posso. Não ainda. Não posso me dar ao luxo de deixar você partir. Não posso deixar você reparar em outro alguém. Não posso partilhar sua atenção com ninguém. Não posso permitir que você estrague meu sonho e meus planos. Quando olho pra você, penso comigo se você me ama, mas não obtenho uma resposta honesta. Enquanto penso, enquanto imagino, enquanto fantasio, enquanto me iludo e sofro, te observo. Apenas isso.

Escola


Eu queria que minha primeira postagem fosse algo elaborado, algo planejado, mas acho que ficaria artificial, não seria eu. Sempre li blogs e pensei: -Porque não escrever um também? Preguiça? Falta de assunto? Talvez. Hoje li um que me fez voltar a infância - e isso porque o texto não tinha nada a ver com - e refletir sobre o passado. Descobri que não posso mudar o já acontecido. Isso faz parte de mim, me completa. Essa semana eu fui a um lugar onde passei os melhores anos da minha vida, mas foi diferente. Olhei para cada uma das pedras do chão com uma outra visão, não mais como aquele garotinho que matava aula para jogar queimada com os amigos. Lembrei de cada momento importante, de cada situação onde disse que seria para sempre, mas não foi. A vida nos direciona para caminhos diferentes, para longe daqueles que amamos. Mas também nos aproxima, nos faz amar novas pessoas e somos felizes - ou pensamos que somos - por isso. Ultimamente tenho andado mais reflexivo e nostálgico. E isso porque só tenho vinte anos.