Sinto o frio do metal em minha pele. Pálido, não transmite emoções. Atado a uma cama, olho para o teto. A luz na sala é fraca, mas vejo você preparando todo o procedimento que acontecerá em instantes. Lá fora chove e venta. Vejo relâmpagos pela pequena janela. Me sinto em uma cena de filme de terror dos anos 50. Arrepios percorrem minha pele. Não vejo sua face, apenas suas costas envolvidas pelo jaleco branco. Angustio-me em meus pensamentos sobre o que acontecerá. Estou nu e vulnerável. Não posso me mover...
Você se vira. Sua face é familiar, embora esteja desfigurada e me cause horror instantâneo. Calçando luvas estéreis, você toca minha pele. Sua mão é fria. Não destoa do ambiente. Você pega uma seringa contendo um líquido escuro, tira a proteção da agulha e a insere sob minha pele. Uma dor indescritível me toma, mas não consigo expressá-la, pois estou amordaçado. A substância começa a ser diluída em minha corrente sanguínea, ao tempo em que meus olhos vão se fechando. Estou inconsciente.
Acordo de repente. Um belo campo está a minha frente, com folhagens verdes e exuberantes em grande quantidade, até onde meus olhos podem alcançar. Mas não vejo pessoas. É um deserto verde. Não há animais também, apenas a minha solitária presença. O sol brilha, embora esteja encoberto por nuvens. A sensação é prazerosa. Há um banho de luz branca em toda parte. Sinto-me como em uma fotografia que foi mal editada e possui brilho além do ideal. Estou andando pelo campo, observando a paisagem ao meu redor, agora levemente amarelada. As plantas parecem queimadas pelo sol, mas ainda parecem saudáveis.
Olho para o céu. Pontos brilhantes se aproximam. O que seriam? O primeiro toca o solo. Um pedaço de metal, brilhante, pontudo. Tento pegar para ver melhor, mas o deixo cair, - está quente -. Outro cai. E mais um... Aos poucos, eles se aproximam em maior quantidade. Preciso me proteger...
Avisto uma caverna ao longe, corro com toda a minha energia. Consigo alcança-la. Isso é bom, penso. Mas ao fundo da caverna, um par de olhos vermelhos e brilhantes me observa. Sinto algo me tocar. Paralisado pelo medo, não consigo me virar para ver a bizarra companhia. Sou arrancado do local onde estou para o fundo do abrigo. A luz se distancia com rapidez. Arremessado em um abismo, choco-me com o chão frio.
Abro os olhos. Estou novamente na sala. Não estava acordado. Nossa alma foge para lugares ocultos de nossa mente durante momentos de intenso sofrimento, afim de se proteger.
Uma faixa passa sobre minha testa. Sinto outras sobre meu peito, braços e pernas. Não consigo olhar pra ver o que aconteceu. Sinto meus membros diferentes, mas não consigo identificar de imediato o que aconteceu. Giro meus olhos ao redor para observar o que está acontecendo e encontro os seus. Os olhares se cruzam e se fixam. Transmitindo medo, percebo um sorriso no canto de sua boca torta.
Você gosta do que vê. Sua criatura te observa, o pavor expresso em seus olhos. Você se move ao redor da mesa. Pressiona uma alavanca que inclina o leito de sua criação. Movendo a mesa até a frente de um espelho, vira para que eu me veja.
Nossas faces são idênticas. Criatura e criador. Monstros. Braços tortos, pernas trocadas. Pele costurada e com marcas de fogo. Finalmente percebo quem é você. Na verdade, sou eu. Eu e meu inconsciente. Você me diz que o tornei nisso e estou apenas recebendo de volta o que enviei.
Acordo suado, enrolado nos lençóis. O coração bate rápido, estou ofegante. Seria aquilo real? Só consigo obter uma reposta ao me virar na cama e te ver me observando com seus olhos vermelhos reluzentes.
Caraca Vinícius, muito bom esse! To boba aqui :O
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