terça-feira, 6 de novembro de 2012

Recomeço

Cá estou eu a olhar o mar.

Ah, o mar... Meu caso de amor, confidente e amigo. Sempre que me sinto só venho vê-lo. O cinza de suas águas, o som de suas ondas quebrando na areia me trazem paz. Hoje, resolvi trazer meu caderno para a orla, coisa que normalmente não faço, uma vez que sempre mergulho em nossa despedida. Gosto de senti-lo tocar-me, o sal penetrando em meus cabelos. Adoro o vento frio batendo em minha pele ao sair das águas mornas de um dia frio. Mas hoje não. Permanecerei sentado aqui, a vislumbrar tal magnitude de longe. 

Estou pensando em algumas palavras para colocar nessas folhas brancas. Tenho tido o sonho de escrever um poema dadaísta, se bem que para criá-lo, tenho que:
  • Pegar um jornal.
  • Uma a tesoura.
  • Escolher no jornal um artigo do tamanho que eu desejo dar ao meu poema.
  • Recortar o artigo.
  • Recortar em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e mete-las num saco.
  • Agitar suavemente.
  • Tirar em seguida cada pedaço um após o outro.
  • Copiar conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.


(Tzara)

Mas não disponho de nenhum material! Apenas as palavras já escritas nas páginas violadas, onde não há mais brancura. Estou triste. Não escreverei meu poema. Ele não se parecerá comigo. Estarei escrito nele! Em cada espaço entre as palavras, em cada ponto, vírgula, reticência e travessão. Poema! Por que não posso fazê-lo diferente? Por que não posso fazer poesia decente? Não importa, são imorais e não mudarão.

Pego meu primeiro texto. Rasgo algumas palavras em detrimento de outras. Não me importo se haverá pedaços remanescentes de antigos versos; servirá como adubo, fonema para compreensão textual. Não quero criar um texto dadaísta? Então...

Pego meu segundo texto. Amasso a folha! Ele não era tão bom assim. Um dia foi, mas deixou de ser. Caminho até a borda da areia e atiro a folha na água. Ela vai, mas volta.

Volto até a areia e seguro meu caderno em minhas mãos. Algumas lágrimas caem de meus olhos e tocam os pedaços de papel sobre a capa dura. Acabei de aprender uma lição! O mar nos devolve aquilo que lhe damos. Seria assim também com as pessoas? Sim, seria. Atiro meu caderno na areia e corro para o ponto de ônibus. Preciso encontrar com ela e dizer o quanto sinto pelo acontecido.

Meus poemas não eram bons. Eram apenas adubo, motivo, pretexto. Nada além disso. Serviram para que pudesse enxergar o que realmente importa.

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