Sabe, meu bem? Hoje eu ouvi aquela música, a nossa. Óbvio que você sabe qual é. Ouvi Tulipa também. Já se deu ao luxo de escutar suas letras? Elas falam tanto sobre nós... Da nossa época de ouro, da prata, do bronze e do latão.
Pois é, meu bem. Já tivemos dias melhores. Já consumimos cigarros, bebidas e salgadinhos melhores. A programação da sua velha tevê já foi melhor também. Mas o tempo passou...
Mas agora, parando para pensar eu pergunto, meu bem: Por que chegamos a esse nível? Estamos dormindo em camas separadas... Cada um com um pedaço do que sobrou do nosso colchão de casal, serrado ao meio naquela noite da briga.
Meu bem, aquilo foi tão engraçado! Você, todo aborrecido, serrando com um serrote, demonstrando uma força que não tem, lutando com o colchão. Eu até ri por dentro com a situação que presenciava...
O colchão se despedaçou, meu bem! Estamos dormindo sobre o tecido, mas não sobre a espuma! O estrado marca as minhas costas; deve marcar as suas também né? Nós dividimos o mesmo quarto, mas não a mesma vida...
Por que, meu bem, chegamos a esse nível? Pergunto-lhe de novo: o que aconteceu com nosso amor? O amor do dia da nossa mudança, de quando descemos as coisas do caminhão e ficamos na calçada em frente à nossa nova casa com cara de tacho? Eu, você e nosso cachorro! Sabe, eu sinto saudades dele... Por que ele foi se enfiar embaixo daquele carro? Até agora eu não entendo...
Meu bem, meu bem, meu bem... Estamos à beira do precipício. Nosso amor está respirando por aparelhos, no CTI, recebendo a extrema unção.
Eu não queria que acabasse assim, entende? Queria poder te chamar de meu bem mais uma vez, não apenas escrever nesse papel, como faço agora.
Meu bem, quando acordar, não estarei mais aqui. Tô indo embora. Pode juntar as camas novamente. Estou voltando pra casa dos meus pais. Você sabe onde me encontrar.
Até breve, meu bem.
Meu bem.
Meu bem.
Espero que um dia você volte ao início. Volte a ser aquilo que era.
Meu bem,
bem meu.
Bom dia, Vinicius. Caso não exista a perfeição, você chegou bem perto dela.
ResponderExcluirInfelizmente as relações se desintegram do modo como você tão bem descreveu.
Acredito, que ninguém queira que chegue a esse ponto uma relação, mas as cobranças vem e com elas a impaciência, a falta de tolerância, o não ceder um ao outro, o querer se achar sempre com a razão.
Pequenas coisas que vão desgantando o metal, que com o tempo vai enfraquecendo perdendo a sua beleza.
Se um dia poderá essa situação ser recuperada, transformada, não sei, apenas sei, que o desgaste gera distância e essa pode ser fatal.
Se os corações dos que se dizem apaixonados, aprendessem a conviver mais livremente, talvez os corpos e as almas não estariam separados.
Parabéns!
Beijos e fique com Deus!
Que forma delicada de escrever sobre um assunto tão cruel!
ResponderExcluirAhh meu bem! Vinícis, faço das suas as minhas palavras: " Nós dividimos o mesmo quarto, mas não a mesma vida..."
Onde está ele agora, enquanto eu estou aqui sozinha, submersa numa casa tão grande...