sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Inquietação

Me consome.
A cada segundo.
Torna-me inquieto mais uma vez,
faz-me sentir ódio, raiva, ira.
Faz-me vivo!

Transforma-me.
De carne e ossos em animal pensante.
Mata-me de uma vez,
e livra-me de tal sentimento.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Lista 2: Discos de 2012: 10 melhores

Demorei tanto tempo pra elaborar a lista de músicas, que quando veio, veio tudo de uma vez. Pois bem: abaixo, vocês podem conferir um pouco daquilo que ouvi durante esse ano. Espero que gostem e discordem, pois quero saber a opinião de vocês!

#10: Crystal Castles - III

O disco considerado mais acessível de Alice e Ethan os aproxima mais da atmosfera hype, que envolve todo o trabalho. Irmão mais novo dos I e II, "(III)" é um tanto perturbador a uma primeira audição (confesso que me assustei com seus ruídos de início), mas que com o tempo vai te aprisionando. Envolvendo, jamais. Esse não é o objetivo deles.
  • Ponto forte: assustador;
  • Ponto fraco: um tanto confuso a uma primeira ouvida.


Ouça: "Plague" e "Violent Youth"


#9: Marina and The Diamonds - Electra Heart

Comecei o ano com o disco novo da Marinão em primeiro, mas depois que fui entendendo a história por trás de tal trabalho, me perguntei: será que ela realmente acertou? O disco é ótimo e cumpre o que promete. Assinado por grandes produtores (Dr. Luke, Stargate, Diplo, Rick Nowels), nos entrega baladas ("Lies" -que funciona melhor de maneira acústica-, "Starring Role"), pop-rock ("Bubblegum Bitch"), faixas chiclete ("Primadonna", "Homewrecker") e músicas um tanto conceituais ("Power and Control", "Teen Idle"). O resto funciona como plano de fundo. Definitivamente: Marina precisa dar um "terceiro passo", para finalmente sabermos onde ela ficará.
  • Ponto forte: não se deixe enganar por uma batida bonitinha;
  • Ponto fraco: o pop escorre por todos os lados.




#8: Iamamiwhoami - Kin

Depois de muito causar nas redes sociais com seus virais com números e apenas uma letra nos nomes, Joana Lee e sua trupe nos entregam "Kin". Uma espécie de disco multimídia, é acompanhado por NOVE (isso mesmo: nove clipes) que contam uma espécie de história "Criação x Criador", nos quais Joanna interage com uma criatura peluda que de longe lembra um cão felpudo (wtf?). Com letras espertas, "Kin" é um disco que não cansa o ouvinte e o faz viajar. 
  • Ponto forte do disco: se vira bem sem o "material de apoio" / letras interessantes / temática bem elaborada;
  • Ponto fraco: mais do mesmo já apresentado anteriormente.
Ouça: "Good Worker" e "Goods"


#7: Lana Del Rey - Paradise EP

Embora tenha sido divulgado como um relançamento do disco de estreia de Lana, "Paradise" também funciona como um disco solo. Com composições mais acertadas que "Born To Die", o EP entrega uma Lana mais evoluída, finalmente mostrando a que veio. Em suas nove faixas, a cantora abusa dos vocais em arranjos mais desenvolvidos e metáforas bem elaboradas (vide "Cola"). Parece que finalmente Lana está no caminho certo.
  • Ponto forte: evolução incontestável de Lana;
  • Ponto fraco: pequeno.
Ouça: "Ride" e "Burning Desire"



#6: Grimes - Visions

Esquizofrenia pura. Assim defino "Visions", o segundo trabalho da canadense Claire Boucher. Em meio a iPods, notebooks, teclados e mesas de som, Grimes entrega um dos melhores disco do ano. Cercada por uma aura inatingível, Claire explora seu timbre único em composições frágeis e fortes ao mesmo tempo. Destaque para "Gênesis" e "Oblivion", que exploram o lado mais comercial do trabalho. Discípula de Björk, desafie-se a não encontrar referências em sua obra e trajetória. 
  • Ponto forte: música alternativa altamente acessível e vendável;
  • Ponto fraco: não possui.
Ouça: "Genesis" e "Circumambient"


#5: Ellie Goulding - Halcyon

Se em seu primeiro trabalho ("Bright Lights", 2010) Ellie Goulding inclinava-se mais às luzes, em "Halcyon", seu mais recente disco, a situação se inverte. Com uma atmosfera mais densa desde a capa até os arranjos, o álbum revela uma cantora mais madura, pronta para dominar as paradas com sua música "indie-pop" (se assim ainda podemos dizer). Palmas para a referência ao dubstep encontrada em "Figure 8". Vale mais a pena ainda na edição deluxe, com sua "In My City". Grande disco.
  • Ponto forte: viciante / vocais bem explorados;
  • Ponto fraco: não possui.



#4: Sky Ferreira - Ghost EP

Depois de quase ser estigmatizada como "apenas um rostinho bonito" após seu EP de estreia (As If!), Sky está de volta com seu novo trabalho. Apenas cinco faixas compõem "Ghost". Cinco caminhos, cinco possibilidades. É incrível a maneira como nossa "Madonna revisitada" acerta em todos eles. Como pode faixas tão diferentes combinarem entre si de tal maneira? Agora, Sky: lança um "disco" logo. Seu fã agradece.
  • Ponto forte: mesmo sendo diferentes, as faixas combinam entre si;
  • Ponto fraco: duração: apenas 19 minutos.


#3: Paloma Faith - Fall To Grace

Imagine uma Lana del Rey revisitada: essa é Paloma Faith. Inglesa (<3), lançou o disco com a melhor capa de 2012 (ou vocês discordam da sintonia que existe entre araras e ela? -trabalho digno de louvor pelo trabalho no Photoshop). Dividiu minhas opiniões por um tempo: as letras profundas e os vocais super exagerados em alguns momentos. Mas descobri que ambos podem coexistir em harmonia. Uma jóia.
  • Ponto forte: arranjos e clipes (<3);
  • Ponto fraco: os gritos podem assustar.


#2: Norah Jones - ...Little Broken Hearts

O que um coração partido não faz... Um dos melhores discos do ano? Talvez. Devemos dar os créditos à Danger Mouse também, afinal de contas, ele "revisitou" a Norah que conhecemos. "...Little Broken Hearts" é um disco pop (que na minha opinião, flerta com o alternativo em alguns momentos). Perfeito pra ouvir em um dia de chuva. Apenas tome cuidado para não se matar. No mais é isso.

P.S.: Prestem atenção às distorções vocais em "Travelin' On" e "Out On The Road". As mais deprimentes.
  • Ponto forte: intenso e bem elaborado / super consistente;
  • Ponto fraco: não ouça se estiver deprimido / tendências suicidas.


#1: Bat For Lashes - The Hauted Man

Depois de 3 anos do lançamento do aclamado (não tão bom assim, na minha opinião) "Two Suns" (2009), Natasha Khan entrega seu melhor disco até o momento. Hermeticamente elaborado do início ao fim, "The Haunted Man" é considerado pela própria como seu disco mais sofrido. Lembrando que Khan passou por uma fase de "bloqueio" enquanto elaborava o trabalho, buscou ajuda com ninguém menos que Thom Yorke (isso mesmo, o vocalista do Radiohead). Ele a mandou desenhar. Fez ele muito bem. Obrigado Thom. Graças a você, temos o disco do ano.

  • Ponto forte: coesão, harmonia entre orgânico e sintético;
  • Ponto fraco: nenhum.





Menções honrosas:

  • Fiona Apple - The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do
  • goldfrapp - the singles
  • gossip - a joyful noise
  • icona pop - iconic ep
  • jessie ware - devotion
  • alphabeat - express non stop
  • regina spektor - what we saw from the cheap seats
  • kesha - warrior
  • ladyhawke - anxiety
  • kyla la grange - ashes
  • santigold - master of make-believe
  • metric - synthetica
  • imagine dragons - night visions
  • owl city - the midsummer station
  • keane - strangeland
  • p!nk - the truth about love
  • mika - the origin of love
  • scissor sisters - the magic hour
  • silva - claridão
  • tulipa ruiz - tudo tanto
  • st. lucia - september ep
  • die antwoord - ten$ion
  • the raveonettes - observator
  • the xx - coexist
  • two door cinema club - sun (remixes)
  • voltaire twins - apollo ep

Lista 1: Músicas 2012: 10 melhores

Eu sei que tinha prometido mais músicas, mas mudei de ideia. De 35, reduzi pra 10. Podem me odiar (ou não; fica a cargo de vocês.)

#10: Norah Jones - Happy Pills

Eu me pergunto: como pode uma musica triste ser tão feliz? É a batida e o título, só pode. "Happy Pills" é uma daquelas músicas que cantarolei por um bom tempo (depois de ouvir "...Little Broken Hearts", obviamente). Essa canção me inspirou a escrever, então, merece entrar na lista. Norah, me tornei bipolar por sua causa.


#9: Marina and The Diamonds - Teen Idle

Depois de se livrar do rótulo de indie e abraçar o mainstream, Marina e os Diamantes entregou "Electra Heart". Embora haja uma história, no mínimo interessante, envolvendo o alterego da srta. Diamandis, "Teen Idle" expressa bem toda a ideia. Os arranjos iniciais, calmos e contidos junto a letra que fala sobre o fato de que poderia ter sido uma "teen idle", preparam para a evolução nos minutos seguintes. Evolução essa em todos os quesitos, inclusive nos vocais amargurados de MATD. Parabéns. Eu comprei o disco por causa dessa música (fiz inúmeros covers dessa canção).


#8: Scissor Sisters - Let's Have a Kiki

Se não ganhou o título de melhor música do ano, ganhou como a mais gay. De longe, "Let's Have a Kiki" é uma das composições mais animadas, debochadas e viciantes já lançadas pelo Scissor Sisters (não que seja difícil para eles fazer isso). Gerou também uma espécie de piada interna, mas isso é assunto para outra hora. Lembrando que "Let's Have a Kiki" é uma gíria americana. Não falo mais que isso. Descubram por si só. Aproveitem também pra aprender a coreografia do clipe e dançarmos juntos na Buatchy! (só que n)



#7: MIKA - Make You Happy

Se o número sete para a bíblia é o número da perfeição, então "Make You Happy" está no lugar certo. Uma composição sobre o amor, com letra romântica embalada pelos falsetes já conhecidos do MIKA é tudo  o que preciso para acreditar novamente no amor. Vale a pena ser ouvida em todas as versões disponíveis (temos duas oficiais).




#6: Ellie Goulding - Anything Could Happen

O single de abertura do segundo disco da Ellie Goulding não poderia ter uma mensagem melhor: otimismo. Dona de três clipes, sendo um deles de fotos do Instagram, a música é poderosa do início ao fim. Fez parte de um momento importante pra mim, por isso está aqui nessa lista. E sim, "tudo pode acontecer".


#5: Bat For Lashes - Oh Yeah

Ela está aqui. No meio da lista. Deve ser justamente por ser tão redonda e bem acabada. Com um toque de Björk, Natasha Khan reinventou sua maneira de fazer música, nos entregando um disco hermético e bem acabado. Ideia essa que trabalhei (ainda que de maneira pobre) aqui no blog em um dos meus textos mais recentes. Como "The Haunted Man" é um disco muito bom (provavelmente o melhor de 2012), todos estão livres para substituir "Oh Yeah" por qualquer uma das doze companheiras de álbum.


#4: Two Door Cinema Club - Sun

Sabe aquela música que no início passa despercebida, mas depois você se pergunta como deixou isso acontecer? Então, "Sun" é dessas. Provavelmente a música que mais repeti nesse ano, começou a me cativar pela capa do single, com sua freira vampiro. Depois, com seu clipe todo trabalhado no Chroma Key (é isso mesmo, produção?), se tornou a canção do ano (mas não digna de um #1). Foi trilha sonora de um amigo meu recentemente, inclusive. Adoro.


#3: Sky Ferreira - Everything Is Embarrassing

Depois dessa música, eu posso afirmar que Sky tem um grande futuro. Agora que se desvencilhou da imagem produzida em seu primeiro EP (As If!), a garota pode explorar todo o seu potencial. Está caminhando para o alternativo e acho isso ótimo. Everything is Embarrassing é uma daquelas canções que tem tudo para dar certo (com o clipe sempre focando na pessoa de Sky então...). Um achado.


#2: Regina Spektor - How

Embora tenha marcado uma época muito triste e sofrida da minha vida, é impossível negar a beleza de "How". Uma verdadeira declaração (lágrimas nos olhos) de amor, sofrida, dolorosa... Essa música é muito especial para mim. Fora que o timbre de Regina dá um toque todo especial.



#1: Paloma Faith - Just Be

Se a música acima citada é a ode ao coração quebrado (nas circunstâncias em que me foi apresentada), "Just Be" é a cura para ele. Minha música nesse momento (e nos melhores que tenho vivido ultimamente), nunca gostei tanto de exageros vocais. De uma poesia lindíssima, Paloma soube expressar aquilo que tenho vivido. Minha declaração, uma oração.

"Lets be unhappy forever
Cause there’s no one else in this world
That I’d rather be unhappy with..."




Bônus

Lana Del Rey - Cola

"My pussy taste like Pepsi cola..."

Toda metafórica, Lana nos apresenta "Cola". De longe, a música mais sensual de Lizzy, a mesma declarou que essa é a comparação feita por seu namorado escocês. Tirem suas conclusões.

Apenas aguardando o clipe.



Tediosa

Pequena, por que és tão tediosa?
Com suas ruas pobres de gente
e bares de história repetida para os viajantes cansados.
Com seus quartos mal cheirosos, pensa que atrairá clientes?
Suas putas estão longe de serem formosas.
Sua iluminação é deficiente,
seu comércio é precário.
Pequena, como atrairá o interesse dos outros?
Dizer: "invistam em mim" deixou de ser suficiente.
Você é má.
Você não presta.
Me entedia e não muda.

Pequena cidade,
para ti, desejo a ruína.

Vidro

Veja, veja este pequeno cisne. Ele é feito de vidro. Areia cozida, você acredita? Sim. Ela vai ao forno sob altas temperaturas e depois se transforma em uma massa transparente que as pessoas sopram, puxam, cortam e desenham. Criam assim os objetos que temos. O vidro é frágil: caiu, quebrou. Depois disso, sobram apenas os cacos, pedaços que cortam a mão daqueles que tentam toca-los. Seria assim também o nosso coração, nossa confiança e sentimentos? Eu acho. São frágeis, minha querida! Frágeis como folhas que caem das árvores e pairam no ar ao sabor do vento. Frágeis como as lágrimas que caem de seus olhos, quando é forçada a produzi-las. Frágeis, mas de valor incalculável.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Dos Conteúdos Herméticos

Os textos herméticos, que se fecham em si mesmos.
Dos conteúdos bem elaborados, que não necessitam de ligações externas.
Dos materiais que não carecem de fontes,
e das ideias que não precisam de ligações externas.

Do egoísmo que morre em si mesmo.
Das palavras que não precisam de significado.
Dos significados que não precisam de palavras.
Das metáforas que se completam e se explicam.
Dos entremeios e meios-tempo.
Da completude dos significados e da abstração das conexões.
Da loucura envolvida que não se explica -e não é explicada ou explicável.
Das palavras que simplesmente escapam, saem, fogem.
Apenas pelo desejo de ganhar vida.
Ou dar a vida aos pensamentos; tradução.

Dos amores que se completam, assim como eu e você.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Azul

Eu não gosto do azul celeste.
Eu choro.
Porque você bebe e me deixa.
Eu sofro.
E você não se importa.
Quando poderei te libertar;
Você quer se libertar?

Exorcize-se por mim,
Por você.
Por seus filhos,
Pela minha vizinha que conta as histórias tristes.

Porque eu não mereço sentir dor ao ver o azul.
Porque eu não mereço sentir dor ao te ver.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Mau Humor

Estou de mau humor hoje. Poderia escrever um simples texto confessional e intimista, mas o que ouço não me permite. Poderia também escrever uns versos amargurados em oposição ao sol que brilha e ao calor que me mata. Também seria uma ideia legal falar dos sorrisos das pessoas, da alegria que me cerca, mas não.

Estou mau humorado hoje, e a culpa é sua. E sua. E sua também. De todos vocês. Estou exercendo a minha bipolaridade em meio a pianos irregulares e versos difíceis, tal como Fiona Apple se derrama em sua nova investtida. É isso: me sinto Fiona hoje. Seria isso possível? Nem gosto tanto dela assim...

Mas escrever palavras ao som dela é algo realmente interessante: a insatisfação sentida em cada uma das palavras, a vontade de dobrar letras enquanto se escreve, toda a licença poética envolvida, é algo incrível, ainda que tenha um gosto amargo, ou melhor: não tenha gosto. Apenas o sabor insípido de minha saliva.

Ter ou não ter gosto? Ode às contradições e as não-negações.

Estou chato hoje.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

21 de Dezembro

O dia em que o mundo não acabou. Maias, vocês estavam errados. Ou não... Ainda temos 22 horas até o fim do dia e muita coisa pode acontecer, mas não é esse o foco do texto.
 
O fim. O fim, em si. O que é o fim? Não é possível definir, atribuir valores ou significados. Fim de que, de quem, com quem, quando... Não importa: O fim é relativo. Do mundo então, mais ainda! Depende do que você chama de mundo e o que é o fim desse mundo, qual a sua extensão; geralmente criamos algo limitado, finito. Não estamos acostumados com a ideia da eternidade. Para uns, a perda do emprego. Outros enxergam no fim de um amor o "encerramento de todas as coisas". Cada um perde o chão a sua maneira, vê os meteoritos incandescentes caindo do céu e a lava emergindo de dentro da terra. Seu apocalipse particular: é algo interessante a se pensar, partindo do princípio que sua cacofonia infernal pode ser personalizada de maneira única.
 
A comoção ante a cena, o fato de estar atado em relação aos acontecimentos, sendo eles independentes da sua vontade... A impotência nunca foi tão bela! E o que vem depois? Angústia.
 
Nada além disso. Essa pergunta mortal. O depois... depois... não há nada! Ou há? Dúvidas que não serão respondidas. Não agora. Talvez no próximo fim de mundo: geral ou específico; quando o céu cair sobre nossas cabeças e o sol se tornar uma gigante vermelha, engolindo nosso pequeno planeta, deixando este, para trás, apenas um pequeno rastro de lítio na superfície do astro-rei.
 
E os nossos sonhos e expectativas? Absorvidos junto. Misturados a massa. Unos.
 
Todos os dias o mundo acaba e o fim chega. Nós que não percebemos.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Fim do Mundo

Imagine que um dia você levantará e verá ruínas. Fogo ao longe, destruição por toda parte. Silêncio, corpos espalhados. Pode até ser que você seja um deles e não perceba; não fará diferença. Pense no seu amor. Onde ele está? O que estará fazendo? Melhor: será que está vivo? Os questionamentos vão tomar a sua mente a cada momento e você simplesmente não os conseguirá responder. Após sair dos escombros, observará ao longe colunas de fumaça se erguendo. Não haverá helicópteros ou aviões para prestar ajuda; o céu não é mais um lugar seguro.

Você não reconhece mais onde está. Até ontem, estava em casa, com seus familiares e amigos. E hoje? Onde estão? Você não os encontrou. Outra vez se pergunta; Outra vez fica em silêncio. Você caminha até a rua (o que um dia já foi uma rua) e tira seu celular do bolso. Ainda bem que dormiu com ele, senão também teria se perdido. Você desbloqueia a tela... Não há sinal! Ora ora... Temos algo grande acontecendo a nossa volta. Não há como se comunicar, então vamos caminhar entre os escombros.

Você já está andando há alguns minutos, e até agora nada. Nem um animal você encontrou. Estranho isso, não concorda? Você vê que seus fones também estão em seus bolsos. "Porque não ouvir um pouco de música para relaxar"? Seria uma boa ideia, então você o faz. A primeira música que toca é "Just Be", da Paloma Faith. Justamente quando essa canção começou a fazer sentido o fim chega.

Mas ela ainda faz sentido.

"Lets be unhappy forever". Tal frase não poderia ser melhor aproveitada na situação em que se encontra. Há apenas destruição por toda parte. Não é possível ser feliz. Você implora para ser infeliz junto dele então, mas não é atendido.

O mundo acabou, sua visão foi limitada e não há nada que possa fazer. Você está preso, sozinho. Não encontrará ninguém, pois todos morreram (ou fugiram e morreram depois). É uma questão de tempo. Não sabemos porque você sobreviveu, mas em breve também morrerá. Então, se assim posso dizer, aproveite seus próximos momentos. Se possível. Senão, apenas aguarde o fim (essa palavra já não possui mais sentido) sentado olhando para o horizonte. É o mais sensato a se fazer no momento.

Vamos nos amar na chuva.

Vamos nos amar na chuva.
Vamos beber até ficarmos tristes.
Vamos fumar até que as coisas não façam mais sentido.
Vamos enxergar a vida em preto e branco.
Vamos nos marcar um na pele do outro,
Vamos nos livrar da amargura que corrói nossos corpos,
e nos destrói a cada dia.

Vamos encontrar beleza no sofrimento.
Ah, minha querida...
Você não sabe o que é sofrer.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Happy Pills

Permaneço na minha pequena incursão preta, bege, vermelha e branca pelo mundo desiludido da Norah. Depois de Regininha matadora com sua "How", eis que me deparo com outro disco baseado no fim dos relacionamentos. Norah é esperta. Fez escola com Sulfite (A4): transformando fins em rios de dinheiro. Tá que boa parte dos créditos devem ser dados à Danger Mouse (Cee Lo que me desculpe, mas estão bem melhor separados).

Voltando à vaca fria, "...Pequenos Corações Partidos" (em tradução livre) é um disco genial. Podia ser transformado num manual de "Como terminar um relacionamento e se sair bem (Matando Todos - Tá, parei.)". Cada faixa - uma ode ao sofrimento expresso em letra e melodia - é acompanhada de uma amargura palpável, onde podemos sentir como a cantora está triste pelo fim de seu relacionamento.

Embora fuja um pouco do estilo, onde se aventura por novas melodias e distorções vocais (veja a belíssima "Travelin' On e "Out On The Road"), Norah consegue manter a essência delicada pela qual ficou conhecida desde "Come Away With Me".

Norah, parabéns. Você me ganhou.

Mas sabe o que é mais estranho nisso tudo? O fato de hoje o dia estar cinza, chuvoso, ventando... Eu ouvi o "...Little Broken Hearts" da Norah, que é um disco super pra baixo, mas não me afetou. Estou bem. Feliz.

Mas tenho um motivo né? (Os fortes entenderão)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Coração

Agora sou todo coração,
Ele pulsa e bate em cada parte de meu corpo.
Toca minha alma e alegra meu espírito.

Tudo o que vejo é amor,
Posso tocar, posso sentir.
Em cada palavra carregada de sentimento.

Na profundidade dos momentos,
da troca de olhares,
nos sorrisos tímidos.

Tomei pílulas de felicidade,
ela consome meu corpo.
Sinto que raios de sol fluem de mim,
Iluminado estou.

Refletindo seu brilho,
estou cego por ele.
Eu sou a lua e você é o sol,
Sou um planeta, um corpo celeste qualquer
a mercê de sua vontade,
da atração que exerce sobre mim.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Nó na garganta.
Nó nas cordas.
Nó de saudade.
Nó do cadarço.
Nó de nós.

Nos demos um nó.

"...Little Broken Hearts"

Minha saudade é POP.
Como os corações partidos da Norah.
Minha garganta tem um nó,
dado por VOCÊ.

Como faço?
Estou ouvindo músicas tristes enquanto estou FELIZ.
Adoro a roupagem pop desse disco.
Ele é amargo e tristonho,
mas eu fico bem quando ouço.
Como pode?

Ele não nos afeta.
De verdade!
Mas eu gosto dele,
dos seus corações partidos,
da sua "doce amargura" (do álbum).

Não do seu coração partido.
VOCÊ NÃO TEM um desse.
Ele está colado.
Foi colado.
Por MIM :)

Bom Dia

Bom dia,
Meu amor.
O sol já está a pino,
Podemos ver a luz entrando por nossas janelas,
Mais um dia se inicia.

Bom dia,
Meu amor.
A relva do campo está verde.
O inverno acabou... Veja as flores desabrochando!

Boa tarde,
Meu amor.
A sensibilidade está a flor da pele.
Nossos corações partidos foram colados.
Juntas precisas, sangue circulando.

Boa tarde,
Meu amor.
Plenitude.
Intenso.
Vivo.

Boa noite,
Meu amor.
O dia passou,
a tarde chegou,
e a noite nos acompanha.
Aproveitamos cada momento...

Boa noite,
Meu amor.
Já está tarde.
Volta pra casa,
ou fica comigo?
Permaneça, eu lhe peço.

Esteja aqui,
para mais uma manhã de sol,
ou nuvens,
ou chuva.
Apenas esteja.

Madrugada.
Durma bem.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Livros, Drogas, Canetas, Sorrisos

A vida é um livro,
e você é a caneta.
Escrevendo em mim, cada linha.
Feito tatuagem
gravando-se em minha pele.

O amor é uma droga,
e estou viciado nela.
A luz entrou em minha casa,
e agora eu posso descobrir o quão bela a vida é.

A palavra é o domínio,
e a caneta é o veículo.
O veículo é você,
que me marca com sua tinta.

Não domino a palavra como você domina.
Ainda sou tímido, contido.
Me diga, meu amor
Como pode ser tão bom para mim?

O medo se foi,
a esperança voltou.
O sol brilha,
posso sorrir novamente!

Me sinto completo,
porque você me completa.
A única coisa que importa agora é você.

Seu brilho me ofuscou,
Não consigo mais sorrir sozinho
Você roubou todos para si,
apenas se manifestando em sua presença iluminada.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Amor - Outras Impressões

O amor leva ao sofrimento.

Seria essa uma afirmação preconceituosa acerca de tal sentimento? Para uns, sim. Os mais entusiasmados com o sentimento podem enxergar por outra ótica, mas no fundo todos concordam que o amor nos torna vulneráveis. Baixamos a guarda e nos tornamos mais propensos a sermos atingidos pelas emoções, sejam elas boas ou ruins.

O amor nos torna sensíveis ao gosto alheio e a adaptação.

Quando estamos envolvidos em alguma relação, observamos o mundo de outra maneira, em função da outra pessoa, eu diria. Levamos em conta os gostos, as preferências. Há todo um conjunto de fatores que, de uma hora para a outra, passam a importar. Nós também, começamos a analisar que aquilo não é algo ruim. Deixamos de ser nós mesmos e absorvemos as características de quem está conosco. Há uma mistura, é como se nos tornássemos um. Em casos mais extremos, adquirimos manias, trejeitos... Muito intensa essa tal de convivência!

O amor nos faz idiotas.

Nos tornamos alienados ao que acontece ao nosso redor, e isso é arriscado. Todos percebem. O que fazer nesses casos? Tentar manter o controle? Ele já foi perdido faz tempo... Desde o primeiro "oi", a primeira batida forte do coração. Pois é. Isso ainda acontece.

O amor nos leva a mergulhar fundo.

Pulamos de cabeça nessa piscina chamada relacionamento. Não subimos pra respirar, não é necessário. Infelizmente, em alguns casos ela é rasa o suficiente para nos machucar. Pode haver traumatismos, fraturas...  Dói.

O amor é perigoso.

Ele nos faz abandonar crenças antigas. Nossos ideais, cada uma das vezes em que dissemos "não me apaixonarei novamente...". Ele bate na nossa cara. Não o faz de leve. E diz: "Lá vamos nós de novo!" (Ele é o mais empolgado nessa história toda). Nos levantamos para cair de novo. Ou não caímos.

Sinceramente, ainda tenho dentro de mim a crença no amor verdadeiro e duradouro. O que as pessoas de hoje consideram utopia, eu considero possibilidade.

Posso até estar começando a mergulhar fundo nesse momento. Posso estar sendo apressado. Estou um pouco inseguro. Mas sinto que há a possibilidade. Talvez esteja enganado. Talvez esteja me enganando. Mas não vou deixar de acreditar nisso. 

Desejo de todo o meu coração que minha montanha russa se transforme numa Autobahn alemã.

Todos dirigindo a 320km/h.

E sem pensar em parar.

Poesia Engajada

Podemos fazer algo.
Levantar de nosso lugar,
sair da zona de conforto.

Podemos iniciar uma tarefa,
ou uma revolução.
Podemos ficar sentados somente assistindo,
e esperar a morte vir nos buscar.

Podemos assistir ao nascer do sol
-e ao por do sol-
podemos ficar em um escritório realizando os mesmos trabalhos de sempre.

Podemos nos apegar ao antigo,
ao amor que acabou, que agoniza e morre logo depois.

Ou podemos levantar a cabeça e olhar pra frente.

Podemos amar novamente,
Podemos viver novamente.
Podemos criar grandes coisas.

Mas nós queremos?

Eu quero.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Esperança

...E ela realmente acreditava que o fim havia chegado. Casas estavam destruídas, havia mobília espalhada por toda a rua e o cheiro de morte impregnava o ar. Famílias choravam nas calçadas entre os destroços... O que seria de cada um deles, meu Deus? O que seria dela? 

Acima de sua cabeça havia um céu cinza-escuro, profetizando que tempos difíceis viriam. A chuva se aproximava. Traria ela em sua companhia outro maldito tornado? Fechando as mãos, elevou uma prece ao mesmo céu negro, implorando por misericórdia dos sobreviventes. Não havia para onde ir. Pelo menos nos próximos dois quilômetros, a única paisagem que se via era de destruição.

Estava presa. Estavam isolados.

Estavam sós.

Mas havia esperança. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Possibilidade

Abra sua mente.
Abrace o desconhecido.
Enxergue, de maneira diferente.
Entenda que a vida é repleta de possibilidades.

Busque um novo amor.
Não, não fique sozinho.
O corpo precisa desse calor para sobreviver.
Faça uma viagem:
Física, mental, espiritual
Não importa.

Liberte-se.
Viva.
Deixe-se viver.

Observe que a vida é um universo de novas experiências.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Diamantes

Eu poderia comprar
pedras preciosas para você.
Poderia lhe dar a pepita mais cara,
a maior,
a mais brilhante
o mais intenso diamante.

Mas não o faço.
Porque assim como o diamante,
duro é seu coração.
Rígido, impenetrável.
Não posso nem riscar-lhe a superfície.

Porque não me permite tocar-lhe?
Achegar-me para perto de ti,
morar em você?

Pedra preciosa,
Cara,
Inalcançável.
Assim é você para mim.

How - A desgraça do fim

Regina Spektor, eu gostaria de bater em você.

Não me julguem, nem apliquem em mim a "Lei Maria da Penha", eu peço. Não tenho culpa se depois de ouvir essa música, minha vida foi completamente desgraçada.

"How can I forget your love?
How can I never see you again?"

Ela já começa com uma declaração dessas... Como posso esquecer o teu amor? / Como conseguirei nunca mais te ver?

Ela não deveria ter feito isso...

Quando a música é a trilha sonora de um momento bom, as vezes nem tem tanta graça. Mas espere por um momento difícil ou triste (difícil e triste, no meu caso): a música se encaixará perfeitamente e acabará com você.

"How can I begin again?
How can I try to love someone new?
Someone who isn’t you
How can our love be true?
When I’m not, ooh
I’m not over you..."

Pois é. Dois dias antes do fim, comecei a ouvir a tal música e prestar atenção em seu clipe. Regina está impecável em sua representação, em meio aos tons pálidos presentes na película... Mas eu nunca havia me prendido a letra. para mim, era apenas mais uma canção bonitinha da cantora nascida na Rússia.

Mas não. 

Era o prelúdio. O início do fim. A preparação para o sofrimento vindouro. Mas, como poderia identificar isso? Até aquele momento, era uma canção que passava despercebida em meio a tantas outras presentes no "What We Saw From The Cheap Seats".

Ela se tornou meu hino. Os 5 minutos mais dolorosos de minha vida. Uma declaração, ode ao fim e ao desespero de ainda amar, envolta em pianos e bateria suave em alguns momentos. 

Regina, por que fizestes isso comigo? Meu coração não é mais tão jovem quanto antigamente.

"Time can come and take away the pain
But I just want my memories to remain
To hear your voice
To see your face
There’s not one moment I’d erase
You are a guest here now..."

A primeira canção. Repetida trocentas vezes indiscriminadamente. Sem pausas, sem reservas, sem chance de me defender. "How" ecoava em meus ouvidos, povoava meus pensamentos... Ela foi a trilha sonora do nosso fim. Cada batida, cada palavra. Em cada acorde pude perceber o que acontecia em minha mente. O desespero de ser deixado, a partida tão repentina, os laços que se partiram tão cedo. O que fazer? Para onde ir? "How can I ever know why some stay and others go?"

"How" contém mais perguntas do que eu possa responder. Não há solução explícita na letra. Apenas o desespero de quem ainda ama e não é mais correspondido. A tristeza é expressa na bela voz de Regina.

O mais tenso é perceber que a canção acaba com uma pergunta...

"So baby
How can I forget your love?
How can I never see you again?"

Bem como se inicia o texto, ele termina.

Eu perguntei. E não obtive uma resposta.



domingo, 2 de dezembro de 2012

Just Friends


Esqueça o que foi escrito anteriormente. A verdade é que o fim muito triste. Sentimos frio, solidão... As pessoas não ligam para o acontecido, como o outro ficará (na verdade, não há motivos para se importar), como as coisas serão daqui pra frente...


É algo complexo o fim de um relacionamento. Uma vez que o amor acabou (ou pelo menos precisou de um tempo), a ideia do "Just Friends" ("When will we get the time to be just friends..." -Amy, sua linda!) parece sedutora, distante e perigosa ao mesmo tempo. Nenhum dos lados está pronto para "recomeçar", para ser "amigo", porque ainda por um tempo a brasa permanecerá acesa e as pessoas esquecerão o que houve... E tentarão novamente... Mas ai lembram dos motivos que culminaram no rompimento. E veem porque não deu certo da primeira vez (que fique bem claro: isso não se aplica a todos os casos). Por isso, alguns casais se separam como verdadeiros inimigos, não suportando a ideia de ter o outro na sua frente. Aquele que há pouco tempo era o amor da sua vida, agora evoca asco, ódio e distanciamento. As vezes pavor (sim, há casos ainda mais extremos)... Uma vez eu ouvi que "o fim de um amor é algo feio...". Realmente, é estranho pensar em duas pessoas que se amavam (ou pelo menos aparentavam isso para a sociedade) estando distantes não suportando trocar olhares.


Geralmente, o processo se dá seguindo uma espécie de passo-a-passo: a primeira distância (o famoso tempo), a proximidade com os amigos dele(a), mais um tempo, a conversa e a decisão... Embora pareça receita de bolo, a maioria dos relacionamentos se encerra dessa maneira. Após a conversa final, temos duas saídas: a reconciliação ou o adeus definitivo. Raros são os casos em que voltam a se ver e mais raros ainda os que se tornam verdadeiros amigos (conheço um caso isolado e acho incrível). As pessoas não conseguem enxergar o momento por uma ótica diferente, já que estão no olho do furacão. Mas, com o passar dos dias, meses, anos... concluem e identificam o que levou a tal decisão, se há chance de recomeço, ou se serão apenas "Just Friends" mesmo.


Um relacionamento é algo complicado. Muitas são as vezes em que temos que abrir mão de algo em função do outro. Depois que termina, uma das primeiras perguntas que nos fazemos é: "Será que realmente valeu a pena todo aquele sacrifício?" Sim, valeu. Porque naquele momento, apenas estávamos vivendo. Amando. Sendo felizes. Não podemos nos arrepender do bem feito, ainda que sejamos questionados pelo nosso consciente no futuro. Ele é racional. Nosso coração, não.



Pra encerrar meu pequeno devaneio sobre o fim, acho que ela sabe falar melhor do que eu sobre isso.




Elisabeth Mitchell (Do b-side)


Fora da ordem dos textos, tais linhas foram concebidas no dia 08/11. Embora seja um texto relativamente triste, acho que deva ser postado aqui. Pertencia ao b-side do blog. Pois é... Existia um b-side. Poucas pessoas puderam vê-lo. Ele não era bonito. Hoje encontrou o fim. Com suas oito postagens. A nona é essa. Espero que gostem.

Hoje, 27 de outubro de 1963, me despeço do mundo.

Tenho em minhas mãos uma Colt Python brilhando. Nova. Comprada especialmente para a ocasião. Sobre a mesa à minha frente, tenho meu caderno de escritos, minha caneta preferida e o cinzeiro contendo um cigarro pela metade.

Baby, você me viciou, me corrompeu.

Sim, amor, minha poesia entrou em decadência no momento que te conheci. Desde então, me tornei uma puta drogada que vivia às margens; à sombra do seu poder. Tornei-me coadjuvante em minha própria vida, porque você estava lá. Bebidas, cigarros, drogas leves e pesadas (não posso mais diferenciar umas das outras) passaram a fazer parte de minha vida desde que você chegou.

Mulher pública, pertenço a todos e todas, menos a você. Fui lançada fora, abandonada quando mais precisava. E agora, estou aqui.

Eu te amava, te idolatrava. Você era meu homem, meu porto seguro. O sonho americano era completo ao seu lado. Cada instante parecia eterno... Parecia... Será que só eu vivi isso?

Agora não importa. Você está do lado de fora e eu estou dentro. Enquanto bate desesperadamente à porta pedindo para entrar, estou aqui, escrevendo à meia-luz, observando a fumaça do cigarro se espalhar no ambiente enquanto vivo os minutos finais de minha vida. Uso aquele hobby de seda branco que tanto gosta. Passei meu melhor batom e coloquei seu perfume preferido. Você pode senti-lo, querido?

Estou pronta.

Não me importo que meus cabelos se sujem de sangue. Combinará com minha morte -essa que vivo desde que te conheci-. Meu amor, não chore, não implore. Não minta para si mesmo, será pior. Conforme-se com o destino. Amanhã encontrará seu amor verdadeiro. Ou depois. 

Um dia.

Elisabeth Mitchell (1936 - 1963)

O amor (fragmento)

(...)

Mas o amor... Ah, o amor...
Sentimento puro, lírico e atemporal.
Verdadeiro, mesmo com as mazelas diárias.
Tolerante com os outros e consigo mesmo.

Estranho, intenso.
Possessivo as vezes.
Não correspondido.
Não amado.

Amor, em qualquer forma ou cor.
Amor

Reconfiguração

Reconfigurar-me-ei para você.
Mudarei de opiniões.
De contexto.
De nome,
sobrenome.
De cor e de religião.

Remanufaturar-me-ei para você.
Trocarei minhas peças.
Realizarei um upgrade.
Poucas palavras,
nenhuma palavra.
Tecnologia.

Reciclar-me-ei para você.
Para quando não me quiser mais.
Quando o cansaço tomar seu coração e mente.
Quando não aguentar mais olhar para mim.
Quando escrever poesias se tornar chato.
E quando as luzes da rua se apagarem.

Serei uma cadeira, um porta-lápis, um objeto qualquer.
Serei uma porta de micro-ondas.
Impedirei que os raios do meu interior te atinjam.
Os raios das minhas ideias e desejos reprimidos.

Serei sua armadura, sua proteção.
Dispa-se de suas roupas, do seu pensamento.
Das suas verdades e pre-julgamentos.
Deixe-me cobrir sua nudez,
Protege-la do mal.

Vista minha pele, proteja-se em mim.
Seja una comigo.
Serei uno contigo.
Metal e pele.
Armadura robô.
Androide.
Mutante.

Alice: Uma resposta

Ouvi isso de uma amiga agora. Achei tão bom, bonito e poético que não poderia deixar passar.

"A Alice foi boba
deveria ter pintado todas as suas paredes
e ter te sufocado com cores."

Alice, parece que tens uma admiradora de suas ideias para comigo.

Créditos: Babi Fyjoli.

Alice

Alice disse pra mim que o mundo é colorido. Mas tudo o que vejo são matizes de preto e cinza. Alice disse que as pessoas não mentem e amam verdadeiramente às outras. Alice estava enganada. Ela me falou dos dias de sol e da brisa do mar, mas tudo o que vejo são nuvens e uma tarde cinza. Alice não via a realidade como ela realmente é? Ou observava tudo por uma perspectiva inacessível? Alice era positiva? Eu era negativo? 

Perguntas sem resposta.

Alice adorava desenhar animais felizes. Pintava quadros e paisagens com uma incrível facilidade. Eu só rabiscava famílias de homens palito e em preto e branco. Alice cantava músicas com seu violão. Eu só me aventurava no meu sintetizador corrompido 8-bit.

Alice via tudo em 128 bit. Eu simplesmente não enxergava. Realmente havia vida lá fora.

Ela viveu.
e eu morri.