Fora da ordem dos textos, tais linhas foram concebidas no dia 08/11. Embora seja um texto relativamente triste, acho que deva ser postado aqui. Pertencia ao b-side do blog. Pois é... Existia um b-side. Poucas pessoas puderam vê-lo. Ele não era bonito. Hoje encontrou o fim. Com suas oito postagens. A nona é essa. Espero que gostem.
Hoje, 27 de outubro de 1963, me despeço do mundo.
Tenho em minhas mãos uma Colt Python brilhando. Nova. Comprada especialmente para a ocasião. Sobre a mesa à minha frente, tenho meu caderno de escritos, minha caneta preferida e o cinzeiro contendo um cigarro pela metade.
Baby, você me viciou, me corrompeu.
Sim, amor, minha poesia entrou em decadência no momento que te conheci. Desde então, me tornei uma puta drogada que vivia às margens; à sombra do seu poder. Tornei-me coadjuvante em minha própria vida, porque você estava lá. Bebidas, cigarros, drogas leves e pesadas (não posso mais diferenciar umas das outras) passaram a fazer parte de minha vida desde que você chegou.
Mulher pública, pertenço a todos e todas, menos a você. Fui lançada fora, abandonada quando mais precisava. E agora, estou aqui.
Eu te amava, te idolatrava. Você era meu homem, meu porto seguro. O sonho americano era completo ao seu lado. Cada instante parecia eterno... Parecia... Será que só eu vivi isso?
Agora não importa. Você está do lado de fora e eu estou dentro. Enquanto bate desesperadamente à porta pedindo para entrar, estou aqui, escrevendo à meia-luz, observando a fumaça do cigarro se espalhar no ambiente enquanto vivo os minutos finais de minha vida. Uso aquele hobby de seda branco que tanto gosta. Passei meu melhor batom e coloquei seu perfume preferido. Você pode senti-lo, querido?
Estou pronta.
Não me importo que meus cabelos se sujem de sangue. Combinará com minha morte -essa que vivo desde que te conheci-. Meu amor, não chore, não implore. Não minta para si mesmo, será pior. Conforme-se com o destino. Amanhã encontrará seu amor verdadeiro. Ou depois.
Um dia.
Elisabeth Mitchell (1936 - 1963)
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